Afroturismo e consciência negra: jornalista explica relação da atividade com a valorização da cultura negra

  • 20/11/2024
(Foto: Reprodução)
Conceito ganhou força em 2018 e atividade vem se desenvolvendo no país como manifestação pela luta do protagonismo negro. Comunidade de São Benedito/Tia Eva é um dos potenciais locais para afroturismo em Mato Grosso do Sul, avalia fundador do Guia Negro. Denilson Secreta/Guia Negro Nesta quarta-feira (19) é celebrado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra e, pela primeira vez, a data é feriado em todo território nacional. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no Whatsapp A ocasião é dedicada à reflexão sobre a história, cultura e a luta da população negra no Brasil e traz debates sobre racismo estrutural e desigualdade social. Entre as vertentes que são discutidas está a inclusão das pessoas negras no setor do turismo. Como forma de destacar e promover a valorização da cultura afrodescendente dentro do setor surge o conceito recente de afroturismo, que vem ganhando força nos últimos anos. De acordo com Guilherme Soares Dias, jornalista e fundador do Guia Negro, a atividade é uma manifestação importante da luta pelo protagonismo negro, proporcionando experiências que vão desde visitas a quilombos e terreiros, até roteiros gastronômicos e culturais em diversas cidades brasileiras. [O afroturismo] é uma busca pelo conhecimento e pelo empoderamento, uma forma de se reconectar com as origens e com as histórias muitas vezes silenciadas, afirma. No Brasil, 56% da população é negra, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o país tem a maior população negra fora da África e a segunda maior do mundo. Para o jornalista, o afroturismo surge nesse contexto como uma forma de combater o apagamento histórico que por séculos colocou as pessoas negras em segundo plano no país. “Nós vemos que esse apagamento histórico foi um projeto de ter as pessoas negras num segundo plano e de que a gente tinha um racismo central no Brasil e, nas últimas décadas, as pessoas negras vêm tentando driblar isso e buscar esse protagonismo de volta”, avalia. O crescimento do Afroturismo no Brasil O movimento de valorização das histórias e culturas negras ganhou força no país a partir de 2018, quando o conceito de afroturismo se consolida. Segundo Guilherme, a prática de visitar espaços ligados à cultura negra era, em sua maioria, associada ao conceito de “turismo étnico”, que inclui diversas etnias, entre elas, a indígena. Desde 2018, temos notado um aumento significativo no número de empresas, roteiros e turistas interessados em experiências que envolvem a cultura negra, observa Guilherme. Ele acredita que esse é um caminho sem volta. Uma vez que os turistas têm a oportunidade de conhecer a história e a cultura negra de forma mais profunda, sem se resumir a uma experiência superficial. LEIA TAMBÉM Dia da Consciência Negra: 10 expressões do português que geram controvérsia sobre racismo Afroturismo em Mato Grosso do Sul Para Guilherme, o afroturismo vai além de ser atividade de lazer e se torna um despertar de consciência. Ele compara essa prática ao processo de letramento racial, considerado um processo de educação e conscientização das pessoas a compreender e combater o racismo. O afroturismo é um reflexo dessa busca por empoderamento e pela construção de uma identidade baseada em valores negros, afirma. Afroturismo em Mato Grosso do Sul Em Mato Grosso do Sul, estado onde Guilherme nasceu e se formou em jornalismo, o afroturismo tem se mostrado como uma ferramenta potente de valorização das comunidades negras e de sua história, conforme avalia o jornalista. “Cidades como Corumbá, com mais de 300 terreiros, e Campo Grande, com a histórica comunidade Tia Eva e, na região, Furnas do Dionísio, apresentam um grande potencial para o turismo cultural negro. Corumbá, além dos terreiros, tem as escolas de samba e outras manifestações culturais que estão sendo cada vez mais valorizadas e acessíveis aos turistas”, descreve. Desafios e Oportunidades para as comunidades negras Apesar do crescimento, o afroturismo enfrenta desafios, especialmente nas comunidades que tentam desenvolver o Turismo de Base Comunitária. A falta de políticas públicas específicas, capacitação e infraestrutura para receber turistas é uma realidade para muitas dessas localidades, como explica Guilherme. As comunidades não têm formação adequada em turismo, o que pode limitar suas capacidades de oferecer uma experiência de qualidade, alerta Guilherme. Ele observa que a estruturação do afroturismo envolve mais do que simplesmente atrair turistas. É preciso garantir que as experiências oferecidas sejam únicas e memoráveis. Caso contrário, um turista insatisfeito pode prejudicar a divulgação daquele destino, explica. Nesse sentido, a capacitação em atendimento, gestão de negócios e promoção turística são fundamentais para o sucesso da atividade, como pontua o jornalista. Para Guilherme, a profissionalização do setor, com o apoio de políticas públicas, pode gerar ganhos econômicos substanciais para as comunidades locais, além de preservar e valorizar suas tradições e histórias. O turismo é uma fonte importante de renda. Ao investir na promoção e na capacitação das comunidades, podemos gerar uma circulação de recursos que ajude a fixar jovens nas localidades, evitando o êxodo rural e garantindo a sustentabilidade dessas culturas. Guia Negro: conectando pessoas e histórias A experiência de Guilherme em um mochilão no ano de 2016 despertou o jornalista para a necessidade de se aprofundar no afroturismo e criar uma iniciativa que inclua a população negra no setor. “Eu tinha conhecido nesse mutirão as histórias do colonizador, as histórias das pessoas brancas. Porque as pessoas que produzem conteúdo no turismo, elas são, em geral, pessoas brancas ou pessoas sem letramento racial”, conta. Guiherme Soares Dias é jornalista e fundador do Guia Negro, que reúne informações sobre destinos de afroturismo no Brasil e no mundo. Divulgação/Guia Negro A partir dessas observações o jornalista lançou o Guia Negro, que reúne informações e roteiros de afroturismo para quem se interessa no assunto e quer se aprofundar na discussão. O projeto, que teve inicio em 2017, conta hoje com 100 mil seguidores nas redes sociais. Conheça o Guia Negro (clique aqui). Para nós, mais do que os números, o que importa é o feedback positivo das pessoas. Recebemos muitas mensagens dizendo que nossas informações ajudaram a tornar as viagens mais significativas, conta o jornalista. Além das redes sociais, o Guia Negro também produziu um livro sobre o afroturismo, ampliando ainda mais seu impacto. Olhar para o futuro Guilherme acredita que o afroturismo tem um futuro promissor no Brasil, mas que ainda há muito trabalho a ser feito. Estamos apenas começando, diz ele. O objetivo é expandir a visibilidade da cultura negra em todo o país, proporcionando uma educação e um entretenimento que conectam as pessoas com as suas próprias raízes e com a diversidade cultural que o Brasil oferece. Livro Afroturismo, afeto, afronta e futuro, de Guilherme Soares Dias, tratar exclusivamente sobre o tema que traz o debate sobre a diversidade para o universo do turismo. Divulgação/Guia Negro Ele também destaca o papel simbólico do feriado de 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, que marca a luta do movimento negro por direitos e igualdade. É uma data importante para refletir sobre a história e as conquistas da população negra. Que ela não seja apenas mais um feriado, mas um momento de aprendizado e valorização, conclui. Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:

FONTE: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2024/11/20/afroturismo-e-consciencia-negra-jornalista-explica-relacao-da-atividade-com-a-valorizacao-da-cultura-negra.ghtml


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